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Renato de Castro

Com 760 milhões abaixo da linha da pobreza, o mundo tá melhorando?

Renato de Castro

30/07/2018 04h00

Foto: Andrew Biraj/Reuters

 

Bem-vindos ao Cidades Mais inteligentes. A partir de agora, faremos um bate-papo semanal para discutir como nossas cidades estão se tornando, mundo afora, melhores lugares para se viver. Mas será que estão mesmo?

Nas minhas colunas anteriores já havia começado a mostrar alguns projetos bem bacanas ao redor do mundo, como o da pequena cidade japonesa de Kamikatsu, que, atualmente, recicla mais de 80% de todo o lixo produzido. Também falamos de Bastia di Rovolon, uma cidadezinha no nordeste da Itália, que resolveu seu problema de investimento em câmeras de segurança com uma "vaquinha"(crowdsourcing) entre seus habitantes.

O Brasil não fica para trás na tentativa de fazer cidades mais inteligentes. Vimos os exemplos criativos de Juazeiro do Norte e do Rio de janeiro que encontraram os parceiros certos para cooperarem na resolução de seus problemas. Mas você já deve estar se perguntado: será mesmo possível? O mundo parece cada dia pior. Nos jornais diários, só noticias negativas e estatísticas estarrecedoras sobre saúde, educação e segurança!

É exatamente por aqui que quero iniciar. Eu te proponho uma reflexão: nunca devemos esquecer que nosso planeta ainda tem muito o que melhorar e que cada um de nós detém uma parcela de responsabilidade nisso. Mesmo assim, é possível reconhecer os avanços que o mundo deu? Existem tais avanços? Nosso futuro é promissor?

Primeiro, é preciso entender que a maneira como nos "vendem" as notícias está baseada muito mais no business de atrair leitores, do que na análise dos fatos. E, até certo ponto, isso ocorre por nossa culpa, porque adoramos notícias com manchetes sensacionalistas, não é verdade? Tudo isso não somente muda a forma com que vemos a realidade, como também cria um sentimento desmotivador, um pessimismo generalizado.

Por falar nisso: um mundo com 760 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Gostou do nosso título? Você acha que a desigualdade no mundo está melhorando ou piorando? Aí vai: segundo o cientista social sueco Hans Rosling, autor do livro recém-lançado – e já na lista dos best-sellers – Factfulness, se considerarmos os países de renda média e alta, eles representam, atualmente, quase 90% da população mundial. Há somente 200 anos, 85% da humanidade vivia na pobreza. Muita pobreza!

De acordo com o Banco Mundial, considera-se que as pessoas vivem em extrema pobreza se vivem abaixo da chamada Linha Internacional da Pobreza. Essa linha corresponde ao rendimento de US$ 1,90 por pessoa por dia. Seja qual for a metodologia que você escolher para quantificar a extrema falta de recursos de um indivíduo, a parcela de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza diminuiu drasticamente ao longo das ultimas décadas.

Não te convenci? Ok. Na década de 1960, 125 países estavam na lista de "subdesenvolvidos", se considerássemos a taxa de mortalidade infantil (acima de 5% até os 5 anos de idade). Atualmente, essa lista contém tão somente 13 nações. Segundo dados do UNICEF, do ano 2000 até agora, o número de crianças que morreram antes de completar 5 anos de idade apresentou uma redução de 50 milhões de casos. O que você me diz? Estamos melhorando?

Mas, e a segurança? Essa, sim, está bem pior, certo? Se analisarmos a série histórica norte-americana, por exemplo, mais de 14,5 milhões de crimes foram reportados em todo o país em 1990. Em 2016, mesmo diante do problema do terrorismo, esse número caiu para 9,5 milhões. Nova Iorque, por exemplo, registrou uma redução de quase 90% no número de homicídios entre 1990 e 2017. A melhora dos índices da Big Apple, não só na segurança, é resultado direto das políticas austeras, como a "tolerância zero" do prefeito Rudolph Giuliani (1994 – 2001), combinadas com uma recente estratégia bem implementada de cidade inteligente.

Infelizmente, no Brasil, onde a segurança é um dos principais problemas urbanos, os números são um pouco mais difíceis de se analisar, uma vez que muitos crimes não eram (e ainda não são) reportados oficialmente. Mas podemos sim (e vamos) discutir alguns bons exemplos e projetos que estão sendo implementados visando a melhorar nossa qualidade de vida.

Segurança pública será o tema do nosso próximo texto e vou levar vocês até Diadema, na grande São Paulo. Veremos como uma boa gestão pública, aliada à tecnologia, está ajudando a transformar a cidade que, no passado, já foi apontada como uma das mais violentas do Brasil. Você está pronto para começar a tornar a sua cidade mais inteligente e um lugar melhor para viver? Nos vemos então na próxima semana.

Sobre o autor

Renato de Castro é expert em Cidades Inteligentes. É embaixador de Smart Cities do TM Fórum de Londres, membro do conselho de administração da ONG Leading Cities de Boston e Volunteer Senior Adviser da ITU, International Telecommunications Union, agência de Telecomunicações das Nações Unidas. Acumulou mais de duas décadas de experiência atuando como executivo global em países da Ásia, Américas e Europa. Fluente em 4 idiomas, é doutorando em direito internacional pela UAB - Universidade Autônoma de Barcelona. Renato já esteve em mais de 30 países, dando palestras sobre cidades inteligentes e colaborando com projetos urbanos. Atualmente, reside em Barcelona onde atua como CEO de uma spinoff de tecnologia para Smart Cities.

Sobre o blog

Mobilidade compartilhada, Inteligência artificial, sensores humanos, internet das coisas, bluetooth mesh etc. Mas como essa tranqueira toda pode melhorar a vida da gente nas cidades? Em nosso blog vamos discutir sobre as últimas tendências mundiais em soluções urbanas que estão fazendo nossas cidades mais inteligentes.