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Renato de Castro

Universidade do futuro: você vai querer estudar nestes campi tecnológicos

Renato de Castro

29/10/2018 04h00

Realidade mista – aumentada e virtual – aplicada à educação superior. Foto: CAE VimedixAR

Você sabe o que diferencia um campus normal de um inteligente? É o propósito e o foco nos usuários finais, que atualmente são chamados de nativos digitais.

Redes sociais, mobilidade, cocriação, conectividade e acesso às tecnologias de ponta são aspectos muito importantes para esse grupo. É preciso então repensar não somente os métodos educacionais, mas também todo o ambiente físico e o contexto de convivência de nossas universidades, principalmente para atrair e reter os alunos dessa nova geração.

O que torna um campus "inteligente" são exatamente os mesmos elementos que norteiam o conceito de Smart Cities. Em síntese, o Smart Campus, em uma escala mais reduzida se comparado às cidades, está centrado nas novas tecnologias de ponta, conectando dispositivos, aplicativos e pessoas para possibilitar novas experiências ou serviços e melhorar a eficiência operacional da instituição.

Estamos falando de uma completa reformulação no conceito de ambiente de educação superior. Não se trata somente de digitalizar a metodologia de ensino e conteúdos, mas sim de criar um verdadeiro Living Lab, um laboratório de experiências.

Qual ambiente urbano seria melhor do que uma cidade universitária para se desenvolver e testar novas tecnologias? Da mão de obra superqualificada a uma amostra real do que podemos chamar de consumidores do futuro: estão todos ali, convivendo diariamente nessas minicidades.

Inteligência Artificial, Internet Das Coisas, Energias Sustentáveis, Mobilidade Urbana, Energias Renováveis,Visão Computacional, em resumo, a chamada tecnologia urbana pode ser desenvolvida, produzida, testada e validada no ambiente controlado de um campus universitário. E claro, instituições de ensino e empresas já acordaram para essa nova realidade.

Da mesma forma que o conceito de cidades inteligentes vem evoluindo, o Smart Campus pode ser implementado em forma de projetos greenfield, ou seja, construído do zero, ou na forma de projetos retrofitting (reestruturação) nas instalações tradicionais. Quando existe a possibilidade da tecnologia Smart ser inserida no DNA do projeto desde a sua concepção, os resultados são incríveis.

O projeto Masdar City, localizado em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, é um excelente exemplo disso. A cidade-modelo, que conta atualmente com uma área de 6 quilômetros quadrados, nasceu em 2006 como um campus universitário resultante de uma parceria entre o Masdar Institute, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e a empresa Siemens.

A tecnologia milenar da torre de vento do Oriente Médio ganhou uma nova versão dentro do campus da Masdar City, em Abu Dhabi. Foto: Masdar City

Várias universidades pelo mundo que estão aplicando o modelo vêm ganhando destaque em projetos de ponta. Alguns exemplos:

  • A Universidade de Wisconsin-Madison está trabalhando com sensores nos semáforos ao longo de um corredor de viagem para criar uma zona de testes de veículos autônomos.
  • Mesmo destaque para a Universidade de Michigan por sua área de testes de veículos autônomos de 50 mil metros quadrados chamada de Mcity.
  • A Universidade de Washington, em Seattle, está testando um projeto de smart grid com mais de 200 medidores inteligentes instalados em prédios do campus que rastreiam o uso de energia em tempo real.
  • A Clemson University e a Universidade Estadual da Califórnia Dominguez Hills contam com várias iniciativas na área de economia de energia e energia renovável (solar).  
  • A Universidade do Texas, em Austin, tem sua própria rede elétrica inteligente para atender às necessidades de eletricidade, aquecimento e resfriamento de todo o campus.
  • O MIT anunciou para 2019 a criação de uma nova faculdade (instalações e corpo docente) com cursos combinando Inteligência Artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados com outras disciplinas acadêmicas. Com US$ 1 bilhão em financiamento, este será o maior investimento financeiro em Inteligência Artificial de qualquer instituição acadêmica dos EUA e provavelmente do mundo.

Vários projetos também se destacam na Europa, como a Open University, localizada em Milton Keynes, na Inglaterra e na Ásia, como o é caso da NTU, Nanyang Technological University.

O projeto NTU Smart Campus, com mais de 2 quilômetros quadrados, já possui várias parcerias com importantes empresas como BMW, Volvo Bus, Blue Solutions e SMRT para impulsionar o futuro do transporte inteligente, desenvolvendo soluções para veículos elétricos e autônomos.

No Brasil, também existem iniciativas de Smart Campus, sendo a Facens – Faculdade de Engenharia de Sorocaba – de longe a mais avançada, reconhecida e premiada do país, incluindo o primeiro lugar no concurso internacional de melhor projeto Smart Cities para educação, promovido pelo Smart Cities UK 2017.

O Smart Campus Facens está localizado em uma área de mais de 100 mil metros quadrados e é um caso de sucesso de projeto de retrofitting. A instituição foi fundada em 1974, mas o programa Smart começou somente em 2015. Em apenas 3 anos de projeto, o campus já conta com 6 centros de inovação, incluindo 1 Fab Lab, e mais de 50 laboratórios especializados, com destaque para o primeiro laboratório conceitual de indústria 4.0 do Brasil.

Por fim, o conceito de Smart Campus pode (e deve) estar apoiado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A plataforma Agenda 2030, apresentada em 2015, contém uma lista com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela organização. O programa ganhou muita visibilidade internacional e atualmente tem aparecido dentro das estratégias de responsabilidade social de órgãos governamentais, organizações públicas e empresas privadas.

Alguns dos ODS fazem parte do DNA de um Smart Campus, como o ODS 4, relativo a educação de qualidade; ODS 7, sobre energia acessível e limpa; ODS 9, focado em indústria, inovação e infraestrutura e o ODS 11, relativo a cidades e comunidades sustentáveis. Contar com um selo das Nações Unidas no contexto de uma instituição de ensino superior seguramente ajuda muito o seu posicionamento e reconhecimento mundial, além da atração de investidores e parceiros nacionais e internacionais.

A pergunta que fica: estamos ou não construindo um novo mundo mais Smart e indubitavelmente mais excitante? Não esqueça de deixar sua opinião abaixo. Nos vemos na próxima semana com mais novidades!

Sobre o autor

Renato de Castro é expert em Cidades Inteligentes. É embaixador de Smart Cities do TM Fórum de Londres, membro do conselho de administração da ONG Leading Cities de Boston e Volunteer Senior Adviser da ITU, International Telecommunications Union, agência de Telecomunicações das Nações Unidas. Acumulou mais de duas décadas de experiência atuando como executivo global em países da Ásia, Américas e Europa. Fluente em 4 idiomas, é doutorando em direito internacional pela UAB - Universidade Autônoma de Barcelona. Renato já esteve em mais de 30 países, dando palestras sobre cidades inteligentes e colaborando com projetos urbanos. Atualmente, reside em Barcelona onde atua como CEO de uma spinoff de tecnologia para Smart Cities.

Sobre o blog

Mobilidade compartilhada, Inteligência artificial, sensores humanos, internet das coisas, bluetooth mesh etc. Mas como essa tranqueira toda pode melhorar a vida da gente nas cidades? Em nosso blog vamos discutir sobre as últimas tendências mundiais em soluções urbanas que estão fazendo nossas cidades mais inteligentes.