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Renato de Castro

"Uber" do cocô – conheça o app que promete te ajudar naquela difícil tarefa

Renato de Castro

28/01/2019 04h00

Foto: pooperapp.com

"A grandeza de um país e seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata seus animais" –  Mahatma Gandhi

Hoje abordaremos um problema que muitas cidades têm e é muito difícil de resolver: como harmonizar, equilibrar a vida entre cidadãos e animais de estimação? Sabemos que há uma tendência de casais não terem mais filhos. Eles estão preferindo ter animais de estimação em vez de crianças e esses animais também compartilham o espaço urbano conosco. Para se ter uma ideia, apenas nos EUA existem mais de 80 milhões de cães cadastrados. Então você pode imaginar a dimensão do problema se pensar em todos esses cães nas ruas produzindo diariamente mais de 30 toneladas de excremento (também conhecido como cocô), certo?

Assim, como resolver esse problema de maneira inteligente e democrática? Não se trata apenas de uma questão de limpeza urbana, mas principalmente de um problema de saúde pública, já que 1 grama de excremento animal pode conter mais de 23 milhões de bactérias. Você sabia disso?

As cidades estão lidando com esse problema de diferentes maneiras. Os EUA, Espanha, Israel e Irlanda já possuem um banco de dados de DNA de cães para analisar os excrementos, cruzar informações e identificar os donos dos cães. Algumas cidades também tentaram, no passado, banir cães das ruas, mas todas as medidas não resolvem realmente o maior problema. Em cidades inteligentes, é crucial harmonizar os relacionamentos de todos e tudo – afinal, o objetivo principal que queremos atingir é o aumento da qualidade de vida.

Contudo, como diz a sabedoria popular: onde existe um problema há sempre uma oportunidade de negócios! Exatamente para aproveitar essa onda de "pets urbanos", uma startup americana está lançando no mercado um aplicativo chamado Pooper, que poderia ser traduzido como "cocozeiro". A ideia é simples: você sai para passear com seu amiguinho e vai marcando no app os locais em que ele deixou sua assinatura especial. Uma equipe de "limpadores de cocô" recebe a notificação e vai ao local realizar o trabalho (sujo) para os menos corajosos.

Olha só a propaganda deles: A Pooper está empenhada em te ajudar com o incômodo e a bagunça de limpar o seu cão. Quer você esteja em movimento, tenha as mãos ocupadas, não consiga encontrar uma lixeira ou simplesmente não goste de pegar cocô (ei, não culpamos você!). Pooper está aqui para ajudar.

O processo é bem simples. Seu amigo faz suas necessidades, você tira uma foto usando o app, aperta o botão: requisitar um recolhedor e você recebe uma notificação depois do serviço realizado. O difícil deve ser avisar a todos que estão ao redor te olhando não recolher o cocô do seu cachorro que "alguém" virá fazer isso por você em breve.

O aplicativo é supersimples de usar. Foto: http://pooperapp.com/

O aplicativo é dividido em duas categorias de usuários: os Poopers (cocozeiros), que são os clientes, e os Scoopers (recolhedores). Como no modelo Uber, qualquer pessoa pode se cadastrar como recolhedor(a) de cocô, definindo os horários em que está disponível para trabalhar e, claro, sendo paga para isso! Quanto mais cocô recolhido, mais dinheiro no bolso. É possível se cadastrar para trabalhar de carro, moto, bicicleta, ou até mesmo a pé, e a bolsinha higiênica é por conta da Pooper 😉

O aplicativo está atualmente em período de testes em Los Angeles, São Francisco e Nova Iorque e promete estar 100% operante no segundo semestre deste ano. Os valores do plano variam conforme a frequência de uso do aplicativo, podendo chegar a até 35 dólares (135 reais) por mês. O mesmo acontece para a remuneração dos recolhedores, que também varia conforme o meio de transporte usado e a distância percorrida. Fantástico! Mas será que funcionaria no Brasil?

As soluções para este problema na Europa apontam para um outro caminho. Nesta semana visitei um projeto muito bacana em Rovolon, na Itália, uma pequena cidade na região do Vêneto. O projeto nasceu como uma PPP (parceria público-privada), na qual o governo local ofereceu a uma ONG uma área de 7.000 m² em uma parte industrial da cidade para abrir um parque para cães. O projeto foi batizado com um nome bem interessante: cidadãos de quatro patas. Isto porque esta é exatamente a ideia principal do projeto: tratar os cães como uma espécie de "stakeholders" da cidade. Bacana, não acha?

A ONG investiu cerca de 6.000 euros (27.000 reais aproximadamente) para construir um moderno e harmonioso parque para cães. O parque é dividido em duas áreas principais, um amplo jardim gratuito para todos e um parque profissional para membros do cão-clube, no qual os usuários pagam uma taxa de 50 euros (cerca de 225 reais) por ano, o que ajuda a ONG a custear a manutenção da área. Os membros podem usar todas as instalações, que incluem: uma piscina para cães, disponível somente na primavera e verão, dispositivos cognitivos, brinquedos e um curso de treinamento de agilidade para cães. Os membros também acessar treinamentos de especialistas para seus cães com descontos especiais. Mas, aqui neste caso, cada um é responsável pelo cocô do seu melhor amigo.

Projeto italiano denominado Cidadãos de Quatro Patas. Foto: Renato de Castro

O projeto foi um grande sucesso e agora é usado não só pelos moradores locais, mas também por membros de outras cidades distantes até 45 km (o que para os padrões italianos é bastante distante). A ONG também desenvolve várias atividades sociais com crianças e idosos para promover esse relacionamento harmônico entre pessoas e seus melhores amigos.

Como eu já havia comentado em diversos outros textos, o conceito de cidades inteligentes não precisa necessariamente estar relacionado ao uso de tecnologia. Ele se refere muito mais à busca pela melhoria da qualidade de vida.

Nos próximos 15 dias, estarei em viagem pelo Brasil para visitar projetos bem interessantes em 8 cidades. Durante duas semanas eu vou rodar nosso país visitando um total de 8 cidades (ou mais) incluindo: Juazeiro do Norte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Rezende, Belo Horizonte, Contagem, São Paulo e Taubaté. Então, se você conhece algum projeto interessante em alguma dessas cidades, e que pode ser um case bacana para benchmarking, deixe seu comentário abaixo e eu vou tentar ao máximo incluí-lo na minha agenda. Nos vemos no próximo texto, e quem sabe aí na sua cidade em breve também!

 

Sobre o autor

Renato de Castro é expert em Cidades Inteligentes. É embaixador de Smart Cities do TM Fórum de Londres, membro do conselho de administração da ONG Leading Cities de Boston e Volunteer Senior Adviser da ITU, International Telecommunications Union, agência de Telecomunicações das Nações Unidas. Acumulou mais de duas décadas de experiência atuando como executivo global em países da Ásia, Américas e Europa. Fluente em 4 idiomas, é doutorando em direito internacional pela UAB - Universidade Autônoma de Barcelona. Renato já esteve em mais de 30 países, dando palestras sobre cidades inteligentes e colaborando com projetos urbanos. Atualmente, reside em Barcelona onde atua como CEO de uma spinoff de tecnologia para Smart Cities.

Sobre o blog

Mobilidade compartilhada, Inteligência artificial, sensores humanos, internet das coisas, bluetooth mesh etc. Mas como essa tranqueira toda pode melhorar a vida da gente nas cidades? Em nosso blog vamos discutir sobre as últimas tendências mundiais em soluções urbanas que estão fazendo nossas cidades mais inteligentes.