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DecorTech: Como a tecnologia é usada para turbinar a decoração da sua casa

Renato de Castro

15/04/2019 04h00

O mobiliário robótico que se move criando vários ambientes em um micro local. Foto: Ori Systems

Um bom termômetro de mercado para analisarmos a recuperação de uma economia é, sem dúvida, o mercado da construção. Essa é sempre a minha primeira "análise" quando visito uma cidade pela primeira vez. Vou contando as gruas e construções no percurso do aeroporto ao hotel e bingo! Já dá para ter uma pequena ideia de como as coisas vão por ali.

Hoje, vamos discutir o que está acontecendo em uma das pontas dessa indústria: a arquitetura e decoração. Se por um lado a construção civil está se reinventando para atender esse mercado, por outro, o setor de decoração está tendo de pensar fora do quadrado para acompanhar e, principalmente, monetizar com essa hype!

A tendência das casas compartilhadas, carro-chefe da bilionária "startup" AirbnB, está se multiplicando rapidamente. Está ficando cada vez mais popular nos Estados Unidos e Europa o compartilhamento de casas para moradia. Eu já tinha tocado nesse assunto em um dos textos de mais sucesso no meu Blog. Esse movimento vai além de uma possível economia de dinheiro, tem um caráter de socialização também e já virou um estilo de vida em muitas cidades.

Toda essa mudança está influenciando diretamente a forma que equipamos e decoramos nossas casas. A empresa HomeShare utiliza o conceito de partições para converter salas de estar em quartos de luxo, o que permite aos locatários economizarem de 30% a 40% em relação ao custo de um quarto equivalente. Há também empresas que ajudam os locatários a dividir os quartos instalando "sleeping pods", como fazem o Haas Living e a PodShare, ou usando as nossas conhecidas beliches, como faz o Rentashare. Ainda nessa mesma ótica de compartilhar espaços, a empresa Everblock oferece literalmente um "lego gigante" que permite a construção de paredes temporárias facilmente.

Como em outros setores tradicionais, empresas no modelo startups estão causando uma grande disrupção no mercado de decoração. O legal é que esse movimento está apenas no início e ainda tem muito espaço para crescer sobretudo no Brasil, onde a recessão dos últimos cinco anos praticamente congelou o mercado da construção e, por consequência, impactou toda a indústria.

Daqui em diante, tudo será uma novidade. No caso do setor de decoração, é muito importante entender as tendências mundiais que estão influenciando o setor da construção civil e as tecnologias que estão sendo desenvolvidas.

O "lego gigante" que permite a construção de paredes temporárias facilmente. Foto: Everblock

Pequeno, modular e bem conectado, esses três adjetivos ilustram bem a tendência das novas construções, especialmente nas grandes cidades. As chamadas microunidades já são bastante populares em regiões com alta densidade demográfica como Nova York e Londres. Esses "micro estúdios" são de 30% a 50% menores do que as nossas conhecidas quitinetes e geralmente estão em bairros com fácil acesso ao transporte público, reduzindo, assim, a necessidade de mais vagas para veículos. Isso  baixa não só o custo da construção, mas também o valor de compra ou/e do aluguel. Em média, essas unidades custam de 30 a 40% menos que uma quitinete no mesmo bairro.

Como encontrar essas áreas disponíveis para construção no centro das grandes cidades acaba sendo uma missão quase impossível. A startup de Chicago Brownfiled Listing  criou uma plataforma (estilo marketplace)  para relacionar os possíveis imóveis disponíveis para conversão em unidades habitacionais. Conhecidos como loft, os apartamentos, que já são muito populares no Vale do Silício e agora estão ganhando o mundo, são antigas oficinas mecânicas, garagens, galpões industriais, armazéns, fábricas etc. que possuem cômodos totalmente integrados, com exceção do banheiro, além de instalações aparentes.

Já existem diversas startups focadas nos pequenos imóveis. A Blokable – startup canadense de Vancouver que já levantou mais de seis milhões de dólares em investimentos –, por exemplo, fez um projeto bem interessante em parceria com uma igreja Luterana em Seattle, nos Estados Unidos, para promover seu revolucionário modelo, tipo lego, de construção em blocos.

Uma das minhas preferidas é a Bumbllebee Spaces. Criada em 2017, em São Francisco, tem como proposta utilizar robôs inteligentes e inteligência artificial para aumentar a área útil e reduzir o espaço de armazenamento, gerenciando objetos sob demanda no teto da sua casa. Louco, não? Já a Ori Systems teve um vídeo que viralizou nas redes sociais com seu mobiliário robótico que se move, criando vários ambientes em um micro local.

A lista de empresas inovadoras no segmento de decoração não para por aqui, eu poderia escrever linhas e mais linhas falando delas. Não podemos esquecer da forte tendência atual: a domótica, ou automação residencial. Eu escrevi sobre isso no texto que apresentei à startup gaúcha Beyond, que está revolucionando o mercado nacional com seus superestilosos interruptores e tomadas 4.0.

Por último, é importante atentar a um novo conceito que estamos chamando de inteligência de bairro. Aqui, entra um, mais uma vez, fator importante inerente aos novos consumidores das gerações Y e Z, nascidos a partir dos anos 80. Para eles, a vizinhança é tão ou até mais importante que a sua casa em si. Todas as tecnologias relacionadas à geolocalização, mapas e plataformas digitais de serviços e entretenimentos estarão cada vez mais presentes no universo do mercado imobiliário.

O universo da arquitetura e decoração era um mundo onde, até pouco tempo atrás, a criatividade e o espírito artístico eram os grandes fatores de sucesso. A tecnologia, como em outras indústrias, passa agora a também ter um papel central nas vidas destes profissionais. O que pode ser visto por alguns como uma grande ameaça, para mim é a grande oportunidade do século para o setor. Podemos contar nos dedos os arquitetos e decoradores brasileiros com renome mundial na atualidade. Com essa mudança, a probabilidade de vermos startups tupiniquins globais aumenta infinitamente. Que venha então a era da decoração 4.0, estamos prontos para brilhar!

Concorda ou não comigo?  Deixe abaixo seus comentários e vamos aprofundar o tema. Nos vemos no próximo texto…

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Sobre o autor

Renato de Castro é expert em Cidades Inteligentes. É embaixador de Smart Cities do TM Fórum de Londres, membro do conselho de administração da ONG Leading Cities de Boston e Volunteer Senior Adviser da ITU, International Telecommunications Union, agência de Telecomunicações das Nações Unidas. Acumulou mais de duas décadas de experiência atuando como executivo global em países da Ásia, Américas e Europa. Fluente em 4 idiomas, é doutorando em direito internacional pela UAB - Universidade Autônoma de Barcelona. Renato já esteve em mais de 30 países, dando palestras sobre cidades inteligentes e colaborando com projetos urbanos. Atualmente, reside em Barcelona onde atua como CEO de uma spinoff de tecnologia para Smart Cities.

Sobre o blog

Mobilidade compartilhada, Inteligência artificial, sensores humanos, internet das coisas, bluetooth mesh etc. Mas como essa tranqueira toda pode melhorar a vida da gente nas cidades? Em nosso blog vamos discutir sobre as últimas tendências mundiais em soluções urbanas que estão fazendo nossas cidades mais inteligentes.