Cidade em quarentena por coronavírus cria força-tarefa de aula a distância
UOL Tecnologia
12/03/2020 04h00
O projeto nasceu com quatro conceitos principais em um momento de emergência:
- "Keep it simple" (mantenha simples, em inglês) – fazer o projeto de maneira objetiva e direta
- Criar uma rotina para os estudantes – fazer com que todos os dias eles tenham pelo menos uma hora de aula online e estejam lá naquele mesmo horário. Assim os estudantes e os professores não irão se sentir em férias.
- Manter o contato – ainda que digital, a proposta é a criança olhar no olho do professor.
- Aproveitar as oportunidades da crise – questões de privacidade e burocracia, por exemplo, que não seriam tratadas ao longo de meses, estão sendo abordadas agora em pouco tempo.
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No Facebook, a página Smart School Veneto concentra as atividades educacionais. Na fanpage foram criadas nove turmas, que englobam do jardim de infância até o nível secundário. A página na rede social também traz um tutorial explicando o passo a passo para cada aluno ingressar na respectiva turma.
Para se comunicar com os pais, a equipe do projeto utilizou o WhatsApp. Em um único grupo foram reunidos 58 representantes que respondem por 850 famílias e 1.200 alunos.
Na quarta-feira (11), aconteceu a primeira aula online.
Alunos de Rovolon têm aulas online após epidemia de Covid-19. Crédito: Renato de Castro/UOL
No vídeo postado no Facebook do projeto, é possível conferir como foram as primeiras experiências de interação online entre os professores e seus alunos. Uma professora relatou seu estranhamento da situação. "É uma sensação estranhíssima para mim. É preciso dizer que sinto falta de vocês, porque ir à escola e encontrá-la vazia, sem crianças, não parece ser uma escola", disse.
Outra professora disse que o projeto foi um meio dos alunos retornarem à escola. "Aqui estamos de volta à escola, de uma maneira um pouco diferente, mas estamos de volta à escola", disse.
Do outro lado da tela, uma mãe testemunhou que seu filho estava emocionado, com lágrimas nos olhos, porque viu seu professor, de quem ele tinha saudades, entrando em seu mundo, em sua casa.
"Conseguimos organizar um plano para levar a sala de aula para mais de 1.200 alunos da nossa região. Uma verdadeira legião de professores heróis, para muitos deles a primeira vez online e no Facebook, mas firmes e super motivados. Nossos filhos em casa e em seu ambiente mais conhecido (o online) assistiram por 60 minutos seus professores. Foi lindo", disse Castro.
Professores super tradicionais, alguns que nem tinham Facebook, criaram sua conta, invadiram as casas e entraram no mundo das crianças. Os professores viraram verdadeiros influencers. Meu filho de nove anos falou isso: 'cara, hoje a minha professora virou a minha influencer'. Isso foi uma coisa avassaladora na nossa realidade aqui na Itália, que é extremamente analógica"
Renato de Castro
A ideia do projeto é que a estratégia de ensino mude com o tempo. Nessa primeira semana, a proposta é ter uma hora de aula ao vivo. Desse total, cerca de 25 minutos é de aula expositiva e o resto do tempo é dedicado para a interação do professor com os alunos via Facebook Live. Também é previsto cerca de duas horas para o estudante se dedicar aos deveres de casa.
A escola de Rovolon onde Castro está atuando é pública. "Tem muita burocracia e depende de vários fatores, mas, nesse caso, como emergência, a gente conseguiu colocar todos os atores interessados no processo decisório", afirmou.
Por exemplo, no final da tarde de terça-feira (10), foi colocada uma antena para aumentar a velocidade da internet de 5 mega para 50 mega na escola. A prefeita foi até o local para abrir a escola para permitir a instalação e, de maneira voluntária, um empresário do setor de telefonia e internet colocou o equipamento. No dia seguinte estava tudo pronto para dar início ao curso online.
Para se ter uma comparação, em uma outra escola pública, demorou três meses para se instalar uma rede de internet adquirida por doação. Tendo em vista esses entraves burocráticos, é possível notar que o projeto em Rovolon deixa um legado importante para a comunidade.
Segundo Castro, o que esse projeto mostra é o que se está fazendo para tornar a cidade mais inteligente em um momento de crise.
Isso é cidade inteligente: é você usar todos os recursos que você tem, junto com a tecnologia, mas, principalmente, junto com as pessoas, com os interessados"
Renato de Castro
Sobre o autor
Renato de Castro é expert em Cidades Inteligentes. É embaixador de Smart Cities do TM Fórum de Londres, membro do conselho de administração da ONG Leading Cities de Boston e Volunteer Senior Adviser da ITU, International Telecommunications Union, agência de Telecomunicações das Nações Unidas. Acumulou mais de duas décadas de experiência atuando como executivo global em países da Ásia, Américas e Europa. Fluente em 4 idiomas, é doutorando em direito internacional pela UAB - Universidade Autônoma de Barcelona. Renato já esteve em mais de 30 países, dando palestras sobre cidades inteligentes e colaborando com projetos urbanos. Atualmente, reside em Barcelona onde atua como CEO de uma spinoff de tecnologia para Smart Cities.
Sobre o blog
Mobilidade compartilhada, Inteligência artificial, sensores humanos, internet das coisas, bluetooth mesh etc. Mas como essa tranqueira toda pode melhorar a vida da gente nas cidades? Em nosso blog vamos discutir sobre as últimas tendências mundiais em soluções urbanas que estão fazendo nossas cidades mais inteligentes.