A reintegração econômica de pessoas pode ser uma oportunidade de negócios
Em minha última viagem ao Brasil, ouvi muita gente comentando que estava descontente com a situação do país e que pensava em ir morar no exterior. No meu texto da semana passada comentei exatamente sobre o caso de Dubai e da preocupação da cidade com a felicidade das pessoas. Tudo isso me fez lembrar de uma história real que não começa tão "feliz" e eu vou te contar agora.
Nosso personagem de hoje é o Beto. Beto estava casa dos 40 anos e era microempresário no Rio de Janeiro. Os negócios iam muito bem, já a vida social e em família nem tanto. Separado há pouco tempo, Beto decide que é hora de fazer uma mudança radical na sua vida. Vende tudo que tem e embarca para Barcelona para viver seu sonho de morar fora do Brasil. E não só isso, ele também estava disposto a recomeçar profissionalmente — agora como fotógrafo profissional, sua grande paixão.
No início, tudo flores (como sempre!). Capitalizado e encantado com seu novo estilo de vida, Beto consegue rapidamente se adaptar. Os primeiros 3 meses passam bem rápido. E de turista em longas e merecidas férias, Beto passa à condição de residente irregular na Europa. Sem documentos oficiais, não só fica difícil encontrar emprego, como também quase impossível receber pelos serviços realizados.
Depois de quase 1 ano nessa montanha-russa de emoções, Beto se vê em uma situação muito complicada. As reservas financeiras evaporaram mais rápido do que o planejado com o custo de vida 4 vezes mais elevado do que no Brasil, e ficava cada vez mais difícil encontrar serviços como fotógrafo devido a sua situação irregular. Após esgotar todas as opções, Beto acabar por ir morar na praça principal da cidade. A história de Beto ilustra bem as dificuldades que muitos imigrantes passam na busca por uma vida melhor no exterior.
Mas o problema de moradores de rua não está somente relacionado a imigrantes. Principalmente nos Estados Unidos e na Europa, é possível encontrar até mesmo pessoas oriundas da classe média nesta situação devido à crise econômica. E quando as coisas ficam difíceis para o cidadão local, imagine para um imigrante sem documentos. Mas a história do Beto não termina aqui e, felizmente, também não acaba mal!
Em 2016, foi criada em Barcelona uma associação sem fins lucrativos chamada Homeless Entrepreneur – #HE (Empreendedores sem teto). O objetivo desta organização é exatamente ajudar os moradores de rua que exerciam atividades profissionais no passado, mas acabaram nesta condição por uma questão econômica. O próprio fundador e atual presidente da #HE, Andrew Funk, tem uma história semelhante. De origem americana, ele chegou na Espanha em 2003. Entre altos e baixos, Andrew também acabou indo morar nas ruas por quase 18 meses, mesmo empregado e ganhando um salário mensal de 3.000 euros (quase R$ 15 mil reais). Ele não somente conseguiu dar a volta por cima na sua história pessoal, mas também criou a organização para ajudar outros moradores de rua a mudarem sua realidade.
Em 2017, Beto passou a fazer parte do time de empreendedores sob a tutela do #HE. Final feliz para todos. Projetos bacanas como o do Andrew estão se multiplicando nos nossos grandes centros urbanos. Eles são uma consequência da própria evolução da nossa sociedade: os cidadãos estão assumindo seu papel de stakeholder ativo no processo de gestão dos problemas. Problemas como assédio sexual, violência doméstica, discriminação de gênero, racismo e tantos outros estão ganhando uma grande atenção. Soluções tecnológicas, principalmente baseadas em apps, estão se multiplicando mundo afora.
Mas como empreender com sucesso nessa área do empoderamento social? Quem paga a conta no final, uma vez que não seria muito factível cobrar do "beneficiado" nestes casos? Imagine cobrar uma mensalidade de um sem teto ou de uma mulher que sofre de violência doméstica para ter acesso ao serviço! Impensável.
Se você está pensando que o dinheiro para esses serviços está vindo dos cofres públicos, esqueça. Esses projetos não se propõem a substituir a assistência social do governo, pelo contrário, no caso do #HE, eles não focam tratar moradores de rua com problema de drogas ou alcoolismo, por exemplo. Embora eles contem com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais da área da saúde, o objetivo é a reintegração social e econômica das pessoas.
Esses projetos não são de caridade, mas sim de empoderamento social. É exatamente aqui que está a grande oportunidade deste novo business que está crescendo rápido e que estamos chamando de Empowerment-as-a-Service – EaaS. Dos orçamentos milionários dos programas de SRC (responsabilidade social corporativa) às verbas para projetos sociais das diversas agências das Nações Unidas — aqui o que não falta é recurso! Você tem uma ideia interessante para ajudar pessoas e quer empreender em um projeto de EaaS? Então a hora é essa para iniciar o seu projeto, boa sorte! Nos vemos na próxima semana.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.